segunda-feira, 8 de agosto de 2011


Paiquerê

Desperto ou adormecido, em todos os homens existe o desejo, ou talvez a saudade, de um paraíso terrestre apenas sonhado ou, quem sabe, perdido. Para os índios do Paraná, este paraíso terrestre é o Paiquerê, uma região escondida “nas terras altas”, além de campos e pinheirais. Ali brincam juntos, veados e onças, trançam vôos gaviões e sabiás, e os tangarás dançam sem que os perturbe a presença de estranhos. O sol aquece sem queimar e a chuva só cai quando a terra a chama. As árvores carregadas de frutos dão as mãos às que se engalanam de flores, todas zunindo de abelhas e chilreando de pássaros. Os riachos, correndo cristalinos, faíscam de palheta de ouro e a relva é sempre fresca e macia. Os que ali penetram, nessa natureza em perene primavera, ficam sempre moços, as mulheres sempre bonitas e os homens sempre vigorosos. Tudo é paz, alegria, felicidade. Esta a maravilhosa região, escondida nas terras altas, que os índios chamam Paiquerê. É a Canaã, o Eldorado, o Shangri-Lá dos brancos. É a morada da felicidade, sonho de todos os homens e que ninguém alcança. Maravilhosa região que, como a “felicidade” de Vicente de Carvalho. “existe, sim: mas nós não a alcançamos, porque está sempre apenas onde a pomos e nunca onde nós estamos”... Texto de Valentim Valente


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